quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Às quartas

Desmaio de doçura,
sonho, calma.
De canto inábil,
de moroso tédio.
Amo os galos bordados na toalha
E a fuligem dos ícones austeros.

Quente zunir de moscas,
Vão-se os dias
Na devoção submissa da certeza.
Sob o telhado,
a codorniz cicia,
Há um aroma festivo de framboesas.

Mas pesa à noite a penugem de gansos,
O lampião vacila, cansativo,
E na toalha,
o galo ergue o seu canto
Monótono, pescoço distendido.

Senhor, nada perturba este silente
Recanto que me deste e onde me asilas.
Espesso, feito um mel,
em gotas lentas,
Escorre da colher o fio dos dias.

Eduard Bagrítsi
(Trad.: Haroldo de Campos)