quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Notas soltas sobre o dia de hoje e os dias que hão-de vir

1. Ouvi a conferência de imprensa, realizada hoje à hora do almoço, da ministra do Trabalho, Helena André, e do secretário de Estado da Administração Pública, Gonçalo dos Santos, para apresentarem o primeiro balanço do Governo relativamente à greve geral em curso. 
Tive oportunidade de constatar dois comportamentos.
O da ministra, que interveio num tom minimamente sensato, não provocatório, revelando, pelo menos aparentemente, que tinha consciência de se estar a referir a um acontecimento que, do ponto de vista político e social, é de grande relevância.  A um acontecimento que,  numa sociedade democrática, tem de ser escrupulosamente respeitado, assim como tem de ser escrupulosamente respeitado o esforço e o sacrifício que milhares de profissionais fizeram, quando a ele decidiram aderir, isto é, quando livremente decidiram participar na greve geral.
Depois, houve o comportamento do secretário de Estado. E pareceu então que não estávamos perante dois membros do mesmo Governo. Um, ponderado, o outro, irresponsável. Um, sensato, o outro, arrogante. Um, respeitador, o outro, provocador. Irresponsável, arrogante e provocador no que disse e no modo como disse. Gonçalo dos Santos ainda é um rapazito, é imaturo de idade e, como se viu, de responsabilidade, e teve um comportamento consentâneo com essa imaturidade: num tom açulador, procurou minimizar o significado da greve, apresentou números que pretendiam ridicularizá-la, afirmou que não era uma greve geral, que era meramente uma greve transversal e outras impertinências do género.
Mas, lamentavelmente, nada no comportamento deste secretário de Estado admira: os comportamentos néscios são uma das marcas de água deste Governo.

2. «Um país que já não dá para nada» foi este o comentário que um jornalista do Público ouviu de alguns jovens, à porta de uma escola secundária. Sendo este o sentimento que, no momento, predomina nos portugueses, seria de esperar que os dirigentes políticos que conduziram o país a esta situação tivessem a humildade e o bom senso de assumirem essa responsabilidade através de uma de duas formas: ou abandonando a política desastrosa que têm realizado ou abandonando as funções que têm desempenhado.

3. O primeiro-ministro da Irlanda informou hoje que vai reduzir o salário mínimo e vai proceder ao despedimento de cerca de 25 mil funcionários públicos, entre outras medidas inadmissíveis. 
O primeiro-ministro irlandês, o primeiro-ministro grego, o primeiro-ministro português e todos os primeiro-ministros que submissamente aquiescem ao poder financeiro são políticos medíocres, são políticos sem mérito. Quem aceita aplicar sacrifícios brutais aos seus compatriotas, como seja, baixar salários e, principalmente, despedir, colocando na pobreza ou na miséria pessoas que não tiveram a mínima responsabilidade na situação que se vive, não pode ser respeitado. 
Os povos são formados por pessoas, por seres humanos que não podem ser tratados como lixo, não podem ser tratados como mercadoria putrefacta que se atira para o aterro. Os políticos foram eleitos por um voto de confiança que essas pessoas  neles depositaram. Confiaram que eles seriam capazes, conforme lhes prometeram,  de melhorar as suas vidas, individual e colectivamente. Não lhes deram um mandato para os empobrecer, não lhes deram um mandato para vender as suas vidas ao poder financeiro.
É imperioso mudar de políticos, em Portugal e na Europa.

4. Hoje foi dia de greve geral. Há pouco, foi anunciado que no próximo dia 15 de Dezembro haverá um protesto a nível europeu. 
Desejo que hoje tenha sido o primeiro passo de uma caminhada que todos teremos de fazer, se considerarmos ser um imperativo ético opormo-nos veementemente à situação profundamente errada que estamos a viver.