sábado, 1 de maio de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


A propósito de Montesquieu

«Montesquieu foi dos grandes filósofos do Iluminismo. Autor das célebres Cartas Persas, que gozavam com a sociedade francesa do início do século XVIII, em que viveu, criticava sobretudo o absolutismo estatal e a intolerância religiosa. De Luis XIV, o monarca francês, dizia que era um mago que conseguia fazer com que as pessoas se matassem umas às outras sem razão; e do papa Clemente XI dizia que era um segundo mago, capaz de fazer com que "as pessoas acreditem que três é o mesmo que um e que o pão que se come não é pão."
Tal não foi obstáculo, contudo, para que, alguns anos mais tarde, ganhasse os favores do papa Bento XIV, que tinha sob o seu mecenato alguns artistas e escritores. Acontece que, depois de conhecer pessoalmente Montesquieu, o papa decidiu oferecer-lhe uma bula pela qual tanto ele como a sua família ficavam dispensados de obedecer à Quaresma durante o resto das suas vidas. Mas para isso era preciso cumprir um pequeno trâmite, mediante o qual se expedia o respectivo documento, em troca de uma boa soma de dinheiro pelos emolumentos. Tal era algo que Montesquieu desconhecia e não estava preparado no momento em que, ao solicitar o documento, o funcionário o informou. Montesquieu recusou então, dando mostras do seu engenho:
- Pensando bem - disse ao funcionário -, não preciso do documento. De certeza que a palavra do papa é suficiente para me dispensar perante Deus.»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor.