sábado, 24 de abril de 2010

Ao sábado: momento quase filosófico


Acerca do rigor da dúvida cartesiana

«Descartes propôs-se duvidar de tudo aquilo acerca do qual fosse possível duvidar, com a intenção de encontrar uma verdade que fosse inquestionável. E, assim, imaginou que seria possível duvidar da existência de um mundo exterior aos nossos pensamentos e, inclusivamente, das verdades matemáticas. Mas chegou também à conclusão de que, por muito exaustiva e metódica que seja a nossa dúvida, nunca poderemos duvidar de que estamos a duvidar. Uma vez que duvidemos, portanto, podemos duvidar de tudo menos da própria dúvida.
Como duvidar é uma forma de pensar, Descartes afirmou o tal "Penso, logo existo". E, a partir desta primeira evidência, acreditou que poderia demonstrar a existência de Deus, de onde deduzia em seguida a existência do mundo extramental. Assim, Deus converteu-se, para Descartes, na garantia do nosso conhecimento do mundo.
Não é de estranhar que Borges dissesse acerca disto: "Creio que o rigor de Descartes é aparente ou fictício. Tal vê-se no facto de que parte de um pensamento rigoroso e, no final, chega a algo tão extraordinário como a fé católica. Parte do rigor para chegar ao Vaticano."»
Pedro González Calero, A Filosofia com Humor.