sexta-feira, 5 de junho de 2009

Imperativamente

Enquanto professor, vivo um conflito grave com a política educativa da ministra da Educação do Partido Socialista. A acintosa e incompetente política educativa do Partido Socialista atingiu um nível insuportável de mediocridade.
O Partido Socialista ficará na história da Educação pelas piores razões: tentou destruir a classe profissional docente, denegriu a sua imagem, conseguiu que milhares de professores antecipassem a reforma, com gravíssimos prejuízos financeiros, e que outros, não podendo reformar-se, recusem manter um comportamento de entrega incondicional à escola, como até aqui sempre tinham feito.
No futuro, o Partido Socialista envergonhar-se-á destes quatro anos, envergonhar-se-á não só do que de inqualificável fez aos professores, mas igualmente do que fez em prol do facilitismo e da generalização da política do faz-de-conta: desde as faltas dos alunos que já não servem para reprovar, passando pelos exames que nada examinam e pela fantasia estatística que tudo deturpa, até à gratuita e maciça distribuição de diplomas e de certificados.
Para este Partido Socialista vale tudo, desde que se vislumbre a possibilidade de haver dividendos eleitorais.
Este é o meu conflito com a política educativa do Partido Socialista, enquanto professor.
Enquanto cidadão, vivo igualmente um confito grave com a política geral do Governo do Partido Socialista. Desde logo, porque o Partido Socialista, pela voz do seu chefe, José Sócrates, me diz, a mim, cidadão português, que avalie a sua política tendo por referência as ditas reformas realizadas na Educação. Como acumulo o estatuto de cidadão com o de professor, tenho de repetir o que já aqui escrevi: se a reforma da Educação é a reforma mais bem conseguida deste Governo, nós, professores, que sabemos, melhor do que ninguém, em que realmente consistiu esta reforma, e que a classificamos como o pântano da incompetência, da injustiça e da arbitrariedade, podemos imaginar a qualidade das reformas levadas a cabo nas outras áreas da governação. Se o desastre da Educação foi a reforma mais bem conseguida, que adjectivação será apropriado utilizar para qualificar as outras reformas?
Mas o meu conflito com política geral do Partido Socialista reforça-se com a avaliação profundamente negativa que faço das diversas áreas da governação, nestes quatro anos. Exemplos:
— Ambiente — cujo ministro parece ter sido, em múltiplas situações, mais o representante dos interesses de empreiteiros e de empresários do que dos interesses da ecologia (e, hoje mesmo, considerou o preço da água demasiado barato, defendendo que ele deve subir 15 vezes!);
— Justiça — domínio em que as trapalhadas se sucedem quase diariamente;
— Obras Públicas — onde já se fizeram e desfizeram aeroportos, pontes e TGV, com a mesma facilidade com que se fazem e desfazem camisas;
— Negócios Estrangeiros — área onde se deu o maior desinvestimento, de que há memória, na defesa da língua e da cultura portuguesa no estrangeiro, e cujo ministro desapareceu de cena há já muito tempo;
— Agricultura — onde existe um divórcio total entre o ministro e os agricultores, entre o ministro e os pescadores, entre o ministro e tudo o que tenha que ver com agricultura ou com pesca;
— e, finalmente, para não ser exaustivo, a Presidência do Governo — cujo protagonista, o primeiro-ministro, é o expoente máximo da arrogância, da demagogia e do mais primário senso-comum. Não conheço deste homem uma ideia. Não conheço deste homem um projecto para Portugal. Tenho dúvidas, sérias dúvidas, de que ele conheça, minimamente, a história do seu país, que saiba fundamentar, por exemplo, porque somos uma nação. Deste homem, que diz ser viciado em filosofia, não conheço uma proposição filosófica, um argumento por ele defendido, uma teoria que ele subscreva.
Deste homem, conheço apenas três palavras de ordem. A primeira, logo após ter tomado posse: «a minha primeira prioridade é Espanha, a minha segunda prioridade é Espanha, a minha terceira prioridade é Espanha». A segunda palavra de ordem: «reduzir o défice, reduzir o défice, reduzir o défice». A terceira: «plano tecnológico, plano tecnológico, plano tecnológico».
Deste homem, não conheço mais nada, tirando, é claro, os permanentes «recordes» que ele bate e os «nunca tinha sido visto» e outras do género.
Estas são algumas das razões porque, no domingo, não votarei no Partido Socialista. Dir-me-ão: mas nenhuma dessas razões tem que ver com a Europa. Não é verdade que não tenha que ver com a Europa. Tem, e tem muito: eu não quero enviar para o Parlamento Europeu gente que pensa e age assim, eu não quero ajudar a construir uma Europa seguindo o paradigma da medíocre e incompetente política do Partido Socialista do meu país.
Por isso, domingo, não votarei no Partido Socialista. Imperativamente.