sábado, 11 de abril de 2009

Ao sábado: momento quase filosófico

Acerca do Método Científico - 1
«Hoje em dia, parece uma tarefa fácil perceber que todo o conhecimento do mundo exterior nos chega através dos sentidos. Mas nem sempre foi assim. Muitos filósofos em épocas passadas pensaram que havia algumas ideias inatas nas nossas mentes que estavam lá a priori - ou antes da experiência. Alguns pensavam que as nossas ideias de Deus eram inatas; outros afirmavam que a nossa ideia de causalidade também era inata.
Mesmo actualmente, quando alguém diz: "Tudo acontece por um motivo", ou: "Acredito na reencarnação", está a proferir uma declaração que não pode ser confirmada nem refutada pela experiência. Todavia, a maioria das pessoas aceita que a melhor prova da verdade de uma afirmação sobre o mundo exterior é a experiência sensorial, e nesse sentido somos todos empiristas.
Isto é, a menos que sejamos o rei da Polónia, a excepção que comprova a regra:
O rei da Polónia e uma comitiva de duques e condes saíram para uma caçada real ao alce. Quando se aproximaram do bosque, um servo saiu de trás de uma árvore a correr, a acenar freneticamente os braços e a gritar:
- Eu não sou um alce!
O rei fez pontaria e alvejou o servo com um tiro no coração, matando-o instantaneamente.
- Bom rei - disse um duque -, porque fizestes aquilo? Ele disse que não era um alce.
- Valha-me Deus - replicou o rei. - Pensei que ele tinha dito que era um alce.
Muito bem, agora comparemos o rei com um cientista importante.
Um cientista e a mulher foram dar um passeio pelo campo. A mulher diz:
- Oh, repara! Aquelas ovelhas foram tosquiadas.
- Sim - declara o cientista. - Deste lado.
À primeira vista, poderíamos pensar que a mulher está apenas a expressar uma visão de senso comum enquanto o cientista formula uma opinião mais cautelosa e científica, na medida em que se recusa a ir para além da prova dos sentidos. Mas estamos errados. Na verdade, foi a mulher que formulou o que a maioria dos cientistas consideraria a hipótese mais científica. A "experiência" dos empiristas não se restringe à experiência sensorial directa. Os cientistas usam as suas experiências anteriores para calcular probabilidades e para inferir afirmações mais genéricas. O que a mulher está, com efeito, a dizer é: "estou a ver ovelhas tosquiadas, pelo menos deste lado. Pela experiência anterior sei que não é habitual os agricultores tosquiarem ovelhas apenas de um lado e que, mesmo que este agricultor o tivesse feito, a probabilidade de as ovelhas se colocarem na encosta de forma a que apenas os seus lados tosquiados ficassem voltados para a estrada é infinitesimal. Por conseguinte, sinto-me confiante ao dizer: "Aquelas ovelhas foram totalmente tosquiadas."
Presumimos que o cientista da piada é uma espécie de crânio demasiado instruído. Mais tipicamente, presumimos que uma pessoa que não consegue extrapolar a partir da sua experiência anterior é simplesmente um imbecil ou, como dizem na Índia, um sardar.
Um polícia de Nova Deli interroga três sardars que estão a treinar para detectives. Para testar as suas capacidades de reconhecimento de um suspeito, mostra ao primeiro sardar uma fotografia durante cinco segundo e depois esconde-a.
- Este é o teu suspeito. Como é que o reconhecerias?
- É fácil, vamos apanhá-lo depressa porque ele só tem um olho! - responde o sardar.
- Sardar! Isso é porque na fotografia que te mostrei o suspeito está de perfil - afirma o polícia.
Em seguida, o polícia mostra a fotografia ao segundo sardar durante cinco segundos e pergunta:
- Este é o teu suspeito. Como é que o reconhecerias?
- Ah! Não será difícil apanhá-lo porque tem apenas uma orelha!
Zangado, o polícia replica:
- Que é que se passa com os dois? É claro que só se vê um olho e uma orelha porque é uma fotografia de perfil!
É a melhor resposta que conseguem dar-me?
Já extremamente frustrado, mostra a fotografia ao terceiro sardar e, num tom muito irritado, pergunta:
- Este é o teu suspeito. Como é que o reconhecerias?
O sardar olha intensamente para a fotografia durante um momento e diz:
- O suspeito usa lentes de contacto.
O polícia é apanhado de surpresa porque não sabe se o suspeito usa ou não lentes de contacto.
- Bem, é uma surpresa interessante - reconhece. - Esperem aqui enquanto vou verificar o cadastro e já volto com uma resposta.
Sai da sala, dirige-se para o seu gabinete, verifica o cadastro do suspeito no computador e regressa, sorridente.
- Uau! Não posso acreditar. É verdade! De facto, o suspeito usa lentes de contacto. Bom trabalho! Como é que conseguiste fazer uma observação tão astuta?
- Foi fácil - respondeu o sardar. - Ele não pode usar óculos porque só tem um olho e uma orelha.»
Thomas Cathcart e Daniel Klein, Platão e um Ornitorrinco Entram num Bar...
(«Acerca do Método Científico - 1» continua no próximo sábado)